Não beije a noiva (Primeiros Capítulos)

Carian Cole entrega um doce, mas sexy romance queima lenta/desenvolvimento lento, diferença de idade, casamento por conveniência com uma grande dose de encantamento! Acho que você poderia dizer que eu era uma donzela em perigo, e ele era meu cavaleiro de armadura brilhante. Mas, mais precisamente, eu era uma garota com muito azar, e ele era um cara com muitos músculos e tatuagens. Jude "Lucky" Lucketti não era apenas um trabalhador sexy de construção civil. Ele era meu próprio herói pessoal que parecia estar em todos os lugares certos nas horas certas. Como quando meu carro quebrou e eu precisei de uma carona para casa, e quando desmaiei na calçada bem na frente dele e tive que ser levada para o pronto-socorro. Esses não foram exatamente os meus melhores momentos, mas foram os dele. Nos tornamos amigos, e não importava que ele fosse dezesseis anos mais velho que eu. Tínhamos muito em comum, como nosso amor por rock antigo e carros rápidos vintage, e nossa aversão a relacionamentos. Quando ele me abordou com uma ideia maluca para me ajudar, eu não podia dizer não. O acordo deveria ser temporário. Um casamento no papel e nada mais. Deveria ter sido fácil, mas não foi. Porque aqui estou eu, dezoito anos, ainda no ensino médio, e casada com um homem por quem eu nunca deveria me apaixonar. Tínhamos apenas uma regra: não beijar a noiva. Mas quebramos essa regra e isso selou nosso destino para sempre.

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Tradução: Lorrane Rodrigues 1ª EDIÇÃO – 2024 RIO DE JANEIRO [miolo] Não beije a noiva.indd 3[miolo] Não beije a noiva.indd 3 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

1 Jude barulho de pneus e Two Out of Three Ain’t Bad, do Meatloaf, no último volume desviam minha atenção dos projetos sobre os quais estou cur- O vado. Eu franzo a testa quando vejo um Corvette prata ‘75 acelerando no estacionamento da escola secundária ao lado. É uma das minhas músicas favoritas, mas não às sete da manhã de uma segunda-feira. Até hoje, a construção desta casa residencial de dois andares tem sido tran- quila. Sem barulho de trânsito. Sem pessoas circulando por aí. Zero distração. Exatamente do jeito que eu gosto. Mas tudo isso vai mudar agora que as férias de verão terminaram e as crianças estão de volta à escola. Adolescentes baru- lhentos rindo têm passado bastante pelo meu local de trabalho na última hora. — Porra — meu supervisor Kyle murmura sob a respiração e solta um assobio longo e baixo. — O quê? — Sigo seu olhar até o estacionamento da escola enquanto enrolo as plantas e as prendo com um elástico. Uma jovem sai do Corvette, empurrando seus óculos de sol tipo aviador para cima de sua juba de cabelos ondulados loiros na altura da cintura. Ela fecha a porta do lado do motorista com um balanço casual de quadril – um movimento que instantaneamente faz minha boca secar. As dobradiças da porta rangem por décadas de ferrugem, mas ela parece não perceber. Afasto meu cabelo do rosto, fascinado pela franja dos mocassins balan- çando e por suas panturrilhas cobertas por jeans. Há uma camiseta preta com uma marca de beijo vermelha estampada por baixo de uma jaqueta de camurça combinando. Ela se afasta do carro com a postura de uma estrela de cinema que [miolo] Não beije a noiva.indd 5[miolo] Não beije a noiva.indd 5 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

acabou de sair de uma limusine, não de um carro esportivo velho enferrujado que tem mais do que o dobro de sua idade. Algum portal de tempo a sugou dos anos setenta e a largou nos dias de hoje? — As coisas que eu gostaria de fazer com ela... — Kyle diz, lambendo os lábios como se ela estivesse prestes a ser sua última refeição. Meu intestino arde com uma pontada de nojo e culpa enquanto desvio meus olhos da garota. — Ela é uma adolescente, cara — eu digo, dando um empurrão duro no ombro dele. — Volte ao trabalho. Eu não estou te pagando para você olhar adolescentes. Rindo, ele pega o cinto de ferramentas e bota o capacete. — Adolescente o cacete, Lucky. As meninas com certeza não eram assim quando estávamos no ensino médio. Verdade. Se fossem, talvez eu tivesse ficado mais interessado em ficar por perto. Em vez disso, larguei a escola seis meses antes da formatura para ter um emprego em tempo integral. Olho para o céu escurecendo. — As nuvens estão chegando. Vamos fazer algo antes de começar a chover. Não podemos nos dar ao luxo de perder mais tempo neste trabalho. — Beleza, Jude. — Ele olha para a garota mais uma vez antes de voltar ao trabalho. Pegando minha garrafa térmica de café, escaneio meu pessoal, quatro homens, e tento avaliar nosso progresso. Estamos dois dias atrasados graças ao pedido de mudanças de última hora dos proprietários, mas acho que podemos recuperar e passar para o próximo trabalho dentro do cronograma. Terminar ou começar um trabalho tarde irrita o cliente, e eu não preciso de nenhum comentário de uma estrela sobre a minha empresa publicado na internet. — Ei, Skylar! — grita uma voz feminina. — Os anos oitenta ligaram. Eles querem as roupas e o carro de volta! Eu enrosco a tampa de volta na garrafa térmica enquanto sou sugado para o drama adolescente que se desenrola a poucos metros de distância. Três meni- nas estão rindo enquanto seguem a garota do Corvette até a entrada dos fundos da escola. Ela de repente para, girando para enfrentá-las em um turbilhão de cabelos loiros e franjas de camurça. Elas dão um passo para trás, esbarrando umas nas outras. — Uau. — Ela olha as meninas de cima a baixo antes de se concentrar na mais alta e bonita do grupo. Deve ser a líder malvada, baseado em todos os filmes 6 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 6[miolo] Não beije a noiva.indd 6 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

que eu já vi. — Pena que seu pai não conseguiu te comprar alguns neurônios junto com a cirurgia no nariz, Paige. O carro é dos anos setenta. As meninas olham para ela e, em seguida, simultaneamente reviram os olhos. Ela fica parada na calçada, forçando-as a desviar e andar ao seu redor. Um sorriso inclina o canto de sua boca. Quando se vira para entrar na escola, ela me pega observando. Sustentando meu olhar com seus olhos brilhantes, ela me dá um sorriso provocador, faz uma bola de chiclete rosa, estoura-a e por fim desaparece para dentro. Eu rapidamente limpo o sorriso bobo do meu rosto com as costas da mão e volto minha atenção para o trabalho. Distrações não são um luxo que eu possa ter. Especialmente bonitas e com “problema” estampado por toda parte. e — Você precisa de alguma coisa antes de eu ir embora? — Kyle pergunta, olhando para as plantas que estão espalhadas em uma mesa. Nós nos conhe- cemos desde o ensino médio, e ele trabalha para mim desde que eu comecei a empresa há dez anos. Ele é sempre o último a ir embora. — Não. — Eu limpo as mãos empoeiradas em um pano e o enfio no bolso traseiro da calça jeans. — Até amanhã. — Vou te trazer um bagel. Depois que ele sai, faço uma varredura rápida do local de trabalho para ter certeza de que nada ficou largado por aí, e jogo minhas ferramentas na parte traseira da minha picape. O som característico de um motor se esforçando para ligar vem do estacionamento da escola, e não estou surpreso ao ver a garota loira batendo os punhos contra o volante do Corvette. Já dentro do carro, acendo um cigarro e dou ré. Meu espelho retrovisor me dá um vislumbre da garota olhando dentro do capô do carro. Ela pelos menos sabe o que está procurando? Ela se inclina para o motor e mexe por alguns segundos, depois se afasta e cruza os braços. — Merda — murmuro, girando com a picape. Eu não posso simplesmente deixar uma adolescente em um estacionamento com um motor morto. Nuvens escuras de tempestade estão se arrastando pelo céu e uma brisa quente está chi- coteando através das árvores. Vai chover a qualquer minuto. Levo minha caminhonete para o estacionamento e paro ao lado dela. — Precisa de ajuda? — pergunto da minha janela aberta. NÃO BEIJE A NOIVA 7 [miolo] Não beije a noiva.indd 7[miolo] Não beije a noiva.indd 7 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

Sua boca se abre e, em seguida, fecha imediatamente quando é interrom- pida por dois atletas do ensino médio se aproximando. — Ei, Skylar! Se precisar de carona, pode vir sentar aqui — O garoto pega seu pênis e ri histericamente. — Isso é muito pequeno para mim, Michael — ela grita de volta. — Eu prefiro sentar no seu pai e te fazer me chamar de mamãe. Ah. Ela é toda explosiva, cheia de faíscas – o que pode ser bom e ruim. Os caras não estão rindo mais. — Vai se foder, sua puta. Quando eles me veem pular da caminhonete, imediatamente começam a andar na outra direção. — Você não devia provocar esses imbecis — eu digo. Suas sobrancelhas se levantam. — Sério? Eu posso cuidar de mim mesma, cara. — Eu percebi, Sparkles. O que há de errado com o carro? — Sparkles? — repete. — Sim. Você solta muita faísca. Como um rojão. A cor de seus olhos se transforma em um tom mais brilhante de turquesa, e o canto de sua boca se levanta lentamente. — Meu avô costumava me chamar de Sabichona, então acho que Sparkles é um nível acima. Soltei uma risada e andei ao redor dela para olhar o capô do carro. — Então, o que aconteceu? Ela encolhe os ombros. — Não tenho certeza. Estava tudo bem esta manhã, agora não liga. — Entre e tente ligá-lo. Ela obedece, mas o motor nem se mexe. — Eu acho que é a sua bomba de combustível — eu digo quando ela sai do carro. — Ah. — Ela morde o lábio inferior e olha para o motor. — Isso pode ser corrigido? — Sim. Você vai ter que rebocar até um mecânico. — Merda. — Pode ser difícil encontrar peças para este carro, no entanto. Qual o ano? 75? — Sim. Foi um presente. Eu fecho suavemente o capô e limpo as mãos na calça jeans. 8 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 8[miolo] Não beije a noiva.indd 8 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

— Bom presente, mas provavelmente vai começar a te custar dinheiro. É um carro velho. Ela olha para o céu escuro e solta um grande suspiro. — Ótimo — diz ela. — Você ou seus pais têm algum mecânico de confiança? — pergunto. Inclinando a cabeça para o lado, ela pisca para mim. — Não, hum... nós não temos. Minha mãe não dirige. — Eu conheço um cara no North Main. Ele é bom e não vai te roubar. Se você quiser, eu chamo um reboque e peço que eles levem o carro para você. — Tudo bem. Obrigada. — Ela olha para o chão e depois lentamente volta para mim. — O reboque é caro? A preocupação em seus olhos puxa meu coração. — São só uns cinco quilômetros, então vai ser barato. Talvez vinte dólares. Um alívio visível toma conta de seu rosto quando eu pego meu celular e organizo a vinda de um caminhão de reboque. Segurando a bolsa e a mochila, ela olha para o carro com uma expressão desamparada. Eu me pergunto se ela pode pagar pelo conserto. O carro é mais velho que andar pra frente, e suas roupas, que fazem o estilo hippie-chic, podem ter sido compradas na Goodwill para economizar dinheiro, não por moda. Enfio meu celular no bolso. — O reboque deve chegar daqui a cerca de quinze minutos. Ela acena com a cabeça e sorri. — Obrigada por fazer isso por mim. — Sem problemas. Gotas gordas de chuva começam a cair, respingando no asfalto ao nosso redor. Seus olhos se arregalam enquanto um trovão soa ao longe. — Você precisa de uma carona para casa? Eu posso esperar com você até que o reboque venha. Não há outras crianças do ensino médio por perto, e eu vou me sentir mal se simplesmente deixá-la aqui sozinha. Seu olhar percorre as tatuagens que cobrem meus braços e mãos. Para no meu cabelo desgrenhado na altura dos ombros. A dúvida cintila em seus olhos. Eu sou um cara legal fazendo uma boa ação? Ou um canalha de cabelos com- pridos, todo tatuado e com uma ficha criminal de quilômetros de comprimento? Talvez eu seja os dois. — Hum… NÃO BEIJE A NOIVA 9 [miolo] Não beije a noiva.indd 9[miolo] Não beije a noiva.indd 9 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

— Você me viu mais cedo trabalhando naquela casa. — Aceno com a cabeça para a nova construção. — E este é o nome da minha empresa no caminhão. Eu não vou fazer nada de ruim. Estou apenas tentando ser legal. Seu queixo se projeta. — Você acha que estupradores e sequestradores andam por aí com carta- zes? Eles têm empregos. Às vezes, esposas e filhos. Eles parecem mais normais do que você. — Você tem razão. — Balanço a cabeça e dou risada. — Ok, então, eu vou para casa antes que fique encharcado. O reboque estará aqui a qualquer momento; tenho certeza de que ele vai te dar uma carona para casa. Ou você pode chamar um Uber. — Espera — ela diz enquanto eu pego na maçaneta da porta. — Estou meio sem dinheiro essa semana. — Ela respira, hesitante. Ainda não tem certeza se pode confiar em mim. — Se você não se importar de me dar uma carona... Entre um motorista do Uber, o cara do reboque e um estranho aleatório, ela decidiu que eu sou o menor dos males. Ei, vou considerar isso um elogio. — Entre, então. — Uma gota de chuva imensa cai no meu rosto. — Pode- mos esperar na minha caminhonete até que o cara do reboque chegue. Uma vez no meu banco da frente, ela coloca a mochila entre nós no assento, como se estivesse criando uma barreira para a segurança. — Eu tenho uma faca — ela diz com naturalidade. — Se você tentar alguma coisa, eu vou te esfaquear no pau. — Rindo, acendo um cigarro. — Relaxa, Sparkles. Nem todo mundo sai na rua só pra te pegar. Vou ficar aqui do meu lado. — Eu dou um trago do meu cigarro, me perguntando se essa garota só é paranoica ou se tem algum tipo de trauma que a deixe des- confiada. — E você não deveria dizer às pessoas que tem uma arma. Se eu fosse um cara ruim, saberia que você ia reagir com uma faca, e a primeira coisa que faria seria tirar de você. Se você quer me surpreender, não anuncia essa porra. Ela suspira e olha pela janela. — Obrigada pela dica. Se eu estivesse com minha irmã, diria que foi o que ela disse e nós riría- mos como idiotas. Eu também diria que ela não deveria trazer uma arma para a escola. Mas minha irmãzinha se foi, não está mais aqui para rir das minhas piadas ou seguir meus conselhos. Eu limpo a garganta. — Meu nome é Jude, a propósito. Meus amigos me chamam de Lucky. 10 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 10[miolo] Não beije a noiva.indd 10 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

— Significa sortudo. Você é? — Ela se vira para me encarar. O tom de sua voz e a maneira como está me prendendo com os olhos me enerva um pouco. Eu balanço a cabeça e exalo fumaça pela janela. — Na verdade, não. Meu sobrenome é Lucketti. Foi daí que veio. — Me chamo Skylar. — Prazer em conhecê-la. — Eu deixo meu cigarro em uma garrafa de água quase vazia no meu console. — Você curte os anos setenta? O carro, Meatloaf, a jaqueta de camurça de franja e mocassins. É tudo legal, só estou curioso. — Eu não sei — ela diz suavemente, girando um anel de prata em torno do polegar. — Acho que sempre me atraí por coisas mais velhas. Elas me dão uma espécie de conforto. Elas foram esquecidas e jogadas de lado. — Ela respira melancolicamente. — Acho que quero amá-las. Lembrá-las de que ainda são importantes. Isso faz sentido? Ou parece estúpido? Seus olhos encontram os meus, esperando, torcendo para que eu não ria dela. Ela quer que eu entenda. E eu entendo. Suas palavras acabaram de entrar na minha alma. — Não é estúpido, de jeito nenhum — digo enquanto o caminhão de reboque se aproxima de nós. — E faz muito sentido. Mais do que você imagina. Muito mais do que ela imagina. Eu sou uma dessas coisas esquecidas e jogadas de lado. NÃO BEIJE A NOIVA 11 [miolo] Não beije a noiva.indd 11[miolo] Não beije a noiva.indd 11 18/06/2024 12:08:0318/06/2024 12:08:03

2 Skylar ude não falou muito depois que eu dei meu endereço. Ele obviamente não é uma daquelas pessoas que tenta preencher o silêncio com conversas Jaleatórias e estúpidas como qual é a sua matéria favorita? ou nós realmente precisávamos dessa chuva. Em vez disso, ele diz, com um cigarro pendurado na boca: — Você gosta do Pink Floyd, Sparkles? — Caramba, sim. Quem não gosta? Sorrindo, ele passa um dedo tatuado sobre um botão no volante, e o som familiar e assombroso de Dark Side of the Moon nos envolve com sua calmaria única. Eu não sei quantas horas eu passei deitada na cama com varas de incenso acesas na minha mesa de cabeceira, olhando para o teto ouvindo este álbum quando me sentia sobrecarregada com a vida. Isso sempre me acalma e me põe nos eixos. — Nada melhor do que terapia musical, hein? — Jude diz, como se esti- vesse lendo minha mente. Aceno com a cabeça. — Verdade. Nós cantamos juntos, o que deveria ser estranho, mas não é. — Você pode me deixar aqui, e eu ando o resto do caminho — eu ofereço quando nos aproximamos da placa dobrada no começo da minha rua. Ignorando, ele vira à esquerda e entra na estrada esburacada. — Não seja boba. Eu disse que te levaria para casa, não que te deixaria em uma esquina na chuva. — Ele balança a cabeça e olha para mim. — Qual casa é? Aponto para a direita e pego minha mochila e bolsa. — Duas casas à frente. Aquela com o trailer. [miolo] Não beije a noiva.indd 12[miolo] Não beije a noiva.indd 12 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

Ele dirige lentamente até a entrada e estaciona a caminhonete. — Tem alguém em casa? — Sua testa franze quando observa a casa escura, percebendo como as grossas cortinas que cobrem as janelas não permitem o menor vislumbre de luz entrando ou saindo. Nenhum brilho azul visível de uma televisão ligada na sala de estar. Teias de aranha cobrem a luz da varanda, que não tem uma lâmpada há anos. — Minha mãe está em casa. Ela deixa tudo escuro porque tem dores de cabeça fortes — recito bem a mentira. Afinal, venho contando com sucesso há anos. — Obrigada por me ajudar hoje e me dar uma carona. — Sem problema. Hesito antes de me despedir, imaginando se vou vê-lo novamente. — Você ainda vai trabalhar naquela casa? Perto da escola? Ele acena com a cabeça. — Sim, ainda temos mais algumas semanas lá. — Legal. Eu provavelmente vou te ver por aí, então? — Com certeza. Mordo o lábio para esconder meu sorriso. — Bem, tenha uma boa noite, Jude. — Você também, Skylar. Fique longe de problemas. — Vou tentar. Quando ele sorri, um lado de sua boca se eleva mais do que o outro. De repente, entendo que estou em um carro sozinha com um cara muito gostoso e muito mais velho, com músculos definidos, pele bronzeada e tatuagens, cabelo nos ombros e olhos da cor da ardósia. Ele não é do tipo belo e refinado, mas tem tudo que há no pacote de trabalhador de construção civil robusto e sexy. Camiseta branca apertada, jeans desbotado e botas de trabalho marrons e usadas. Uma sujeira atraente. Eu pulo da caminhonete dele e bato a porta, mas ele não se afasta. Percebo que está tentando ser todo nobre e cavalheiro e realmente me ver entrar em casa com segurança. Suspirando, subo a passarela em ruínas até a casa, depois me viro para ace- nar para ele com uma mão na maçaneta da porta de tela enferrujada. Eu forço um sorriso que diz: Sim, estou em casa em segurança. Nada com que se preocupar. Se ao menos isso fosse verdade. Eu me sinto meio mal quando ele sorri e acena de volta antes de manobrar para a rua, porque ele parece um cara legal. Depois de esperar alguns segundos NÃO BEIJE A NOIVA 13 [miolo] Não beije a noiva.indd 13[miolo] Não beije a noiva.indd 13 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

para ter certeza de que ele não está mais me observando, vou até os fundos da casa e passo pelo velho trailer em que meu pai morava. Subo na caixa de madeira encostada na casa, abro a janela do meu quarto e entro. Fluffle-Up-A-Gus, minha gata, pula da cama e imediatamente corre para se esfregar em meus tornozelos, cauda erguida como uma bandeira. Eu a pego e afundo meu rosto em seu pelo macio e cinza. — Eu senti sua falta hoje, Gus. — Ela irrompe em ronronos e amassa meu ombro. — Você sentiu minha falta? Vamos te alimentar. Eu gentilmente a desço e abasteço seu prato com comida, em seguida, despejo água de uma garrafa de plástico em sua tigela. Bocejando, eu tiro as roupas e as jogo no cesto, depois me agacho cuida- dosamente em um grande balde atrás da porta do armário. Eu me limpo com um pequeno quadrado de papel higiênico e coloco em um saco de lixo plás- tico; em seguida, retiro a urina amontoada da areia do gato no fundo do balde, peneirando-a no saco de lixo. Repito o processo com a caixa de areia do gato do outro lado do armário e, em seguida, amarro o saco para jogar fora amanhã. Eu começo meu ritual diário de limpar meu rosto e corpo com lenços umedecidos para bebês, depois borrifo xampu seco no cabelo. Finalmente, pego uma camiseta oversized e um short de algodão. Gus serpenteia em torno dos meus pés, buscando atenção, o que eu amo. Sorrindo para ela, eu me ajoelho na frente da minha pequena geladeira, para tirar uma garrafa de água, duas fatias de pão e um pote de manteiga. A preocupação com o meu carro me atormenta enquanto espalho manteiga no pão com uma faca de plástico. Eu mastigo distraidamente, tentando calcular quantas horas extras terei de trabalhar na boutique para pagar o conserto. Eu só tenho algumas horas disponíveis para trabalhar, por isso poderia levar semanas para pagar. Parece que eu nunca consigo fazer uma pausa. Antes que eu possa me acomodar na cama para assistir TV, destranco as três travas na porta do meu quarto e olho para o corredor escuro. Um fedor azedo e mofado imediatamente enche minhas narinas. Meu estômago se agita com náuseas. Eu posso ouvir a televisão e ver os fracos flashes de luz que vêm da sala de estar no final do corredor. — Boa noite, mãe — eu grito, minha voz vacilante. Eu não posso vê-la, mas tenho certeza de que ela ainda está lá – no velho sofá verde. Já se passaram meses desde que tentei me aventurar fora do meu quarto, mas sei que ela está cercada por pilhas e mais pilhas de coisas, possi- velmente tudo chegando ao teto agora. Para chegar a qualquer outro cômodo, 14 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 14[miolo] Não beije a noiva.indd 14 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

ou mesmo à porta da frente, eu teria de me espremer por caminhos estreitos e subir sobre pilhas de caixas e tralhas que cobrem o chão. A cozinha e o banheiro estão tão imundos e abarrotados, que parei de usá-los há dois anos. Até mesmo o velho trailer está cheio até o topo com roupas velhas, cobertores, plantas falsas, decorações natalinas – o que der para imaginar. Minhas esperanças de me mudar para ele quando ficou vazio foram frustradas quando ela o encheu menos de um mês depois que meu pai saiu. Minha mãe é uma acumuladora. Fui forçada a me refugiar no meu quarto, incapaz de usar o banheiro e a água corrente como uma pessoa normal. Há provavelmente duzentos frascos de xampu, condicionador e sabonete líquido lá fora entre as pilhas caóticas, mas se eu tentar pegar algum, minha mãe terá um ataque. Eu tenho de manter a porta do meu quarto trancada o tempo todo, porque é um espaço valioso aos olhos dela. Um espaço de doze por quatorze para ela preencher com milhares de itens de loja de um dólar, estátuas de animais em tamanho real, esteiras ou casacos de pele falsa. Ela nunca usa nenhuma das coisas que compra. Elas são adicionadas ao museu de seus pertences. Mas, de alguma forma, tudo isso dá a ela um tipo de satisfação que eu literalmente nunca, nunca vou entender. Meu pai morou no trailer por quase quatro anos, incapaz de lidar com tudo isso. Então, um dia, ele se foi, me deixando com um bilhete de desculpas e a realidade de que fiquei sozinha para me defender na selva desta casa. Ele tentou conversar com ela muitas vezes ao longo dos anos, para levá-la a procurar ajuda, mas minha mãe se recusou. Eu fiz o mesmo, mas ela não me ouve. Se desliga e se fecha. Agora, mal fala comigo. Como ela poderia quando temos que percorrer montanhas de lixo para estar fisicamente no mesmo espaço? Em vez disso, eu tenho que ligar ou enviar uma mensagem de texto para ela para me comunicar. Eu costumava me perguntar se ela se importava com o que isso estava fazendo comigo. Se ela se preocupava comigo subindo pelas janelas, usando um balde como vaso sanitário e me escondendo no meu quarto com meu gato. Não adianta ficar imaginando porque eu já sei as respostas. Fecho a porta e tranco-a novamente com um suspiro de alívio. Eu conse- gui criar meu próprio pequeno mundo seguro aqui com a Fluffle-Up-A-Gus. Temos tudo o que precisamos para sobreviver. É quase como se o pesadelo do outro lado da porta não existisse. Mas também está lentamente começando a parecer que eu também não existo. NÃO BEIJE A NOIVA 15 [miolo] Não beije a noiva.indd 15[miolo] Não beije a noiva.indd 15 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

3 Skylar uando você vai pegar seu carro? — Megan pergunta enquanto Qdamos nossa terceira volta ao redor da pista. Uma névoa leve — está persistente no ar, umedecendo minha pele e deixando meu cabelo eriçado. A aula de educação física sempre é no primeiro tempo, e nesse último ano não é diferente. É uma droga ficar toda suada e agitada logo pela manhã, quando eu mal estou acordada, mas o lado positivo é que eu posso tomar um banho quente depois. Isso resolve meu dilema de não poder tomar banho em casa e não desperta nenhuma suspeita nos meus colegas de classe. Durante overão, tive a interessante e desagradável experiência de ter que dirigir até uma parada de caminhão para tomar banho duas vezes por semana. Ninguém sabe do estado da minha mãe. Nem mesmo Megan, e ela é minha melhor amiga desde a quarta série. Depois de um tempo, ela simplesmente acei- tou que eu era uma daquelas pessoas que nunca leva amigos em casa. Seríamos loucas se não fôssemos para a casa dela, de qualquer maneira. Tem uma sala de cinema e uma piscina. Afasto um mosquito do meu rosto. — Não tenho certeza de quando vou recuperá-lo. O mecânico me man- dou uma mensagem esta manhã e disse que me avisaria depois de descobrir o que há de errado. — Espero que não demore muito. Eu posso te buscar todas as manhãs, mas não consigo te dar carona depois da escola, porque eu tenho um monte de merda extracurricular basicamente todos os dias. A única atividade extracurricular que eu tenho é um trabalho de meio período. [miolo] Não beije a noiva.indd 16[miolo] Não beije a noiva.indd 16 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

— Tudo bem. Eu posso ir andando depois da escola para a butique ou para casa. Vou perguntar a Rebecca se posso trabalhar no fim de semana por algumas horas extras. Quem sabe quanto isso vai me custar. — Você deveria ter comprado um Hyundai usado. Eles vêm com garantia. O Vette é legal, e de graça, mas está praticamente caindo aos pedaços. — Um Hyundai é apenas um carro. Não tem caráter. Ou valor sentimental. O Vette era do meu avô. Ele o comprou para ser um projeto de restaura- ção há alguns anos, com a esperança de reconstruí-lo totalmente e dá-lo a mim como um presente de formatura do ensino médio. Tenho certeza de que foi, de certa forma, um complô para me impedir de largar a escola. Eu costumava sentar no carro em sua antiga garagem, sonhando com quando eu poderia dirigir. Infelizmente, a vida tinha outros planos, e ele foi deixado para mim em seu testamento. Agora o sonho dele se tornou meu. Até lá, tenho orgulho de dirigi-lo como está. A sra. Stephens, nossa professora de educação física, balança a cabeça para nós enquanto passamos pelas arquibancadas em que ela está empoleirada. — Senhoritas, é para correr ao redor da pista. — Qual é o sentido de correr se ninguém está nos perseguindo? — eu respondo, sorrindo inocentemente. Sem se divertir, ela empurra os óculos de aro escuro até a ponte de seu nariz. — Pelo menos caminhe rápido. Vocês não estão aqui para exercitar as bocas. Megan ri enquanto prende seu cabelo longo e preto em um rabo de cavalo. — Essa umidade é nojenta — ela me diz. — Eu não quero exercitar nada. — Somos duas. — Sexta-feira à noite a gente podia… — Ela para brevemente. — Uau. Santo bíceps, Batman. — Hein? — Confusa, sigo o caminho de seus olhos, o que me leva dire- tamente a Jude, que está andando pela calçada em direção à casa em que está trabalhando. Um pequeno saco plástico da loja de conveniência a um quarteirão de distância balança de sua mão. — É ele — eu digo. — Ele quem? — ela pergunta,os olhos ainda fixados nele. — O cara que me deu uma carona para casa. Jude. Ele se vira, e um sorriso lento se abre quando me reconhece. Um grupo de colegas de classe passa por nós na curva da pista, bloqueando-o momenta- neamente da nossa vista. NÃO BEIJE A NOIVA 17 [miolo] Não beije a noiva.indd 17[miolo] Não beije a noiva.indd 17 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

— Vocês estão fazendo errado — ele brinca depois que passam. — Estamos exercitando nossas bocas — Megan responde, andando mais devagar e me forçando a fazer o mesmo para que fiquemos alinhadas. Rindo, ele volta sua atenção para mim. — Como está o carro? Alguma novidade? — Ainda não. A sra. Stephens apita. — Senhoritas, se vocês não começarem a se mover, as duas ficarão de detenção. Sr. Lucketti, tenho certeza de que você se lembra de como é isso. Minhas bochechas esquentam de vergonha. Ele realmente passou por essa escola quando era mais jovem? Jude lhe dá um sorriso arrogante. — Qual é, você sabe que sente minha falta, sra. Stephens. — Continue andando, Lucky. — Uma pitada de afeto se faz presente sua voz. — Você não me disse que ele era gostoso — diz Megan, depois que Jude desapareceu atrás das novas paredes que sua equipe levantou. — Como você pôde deixar essa parte de fora? — Eu não reparei nele, Meg. — Isso pode ser uma mentira. Talvez eu possa ter reparado um pouco. — Ele tem uns trinta anos. — É verdade, mas ainda é uma perdição total. — Eu não sabia que ele estudava aqui. A sra. Stephens trabalhou aqui a vida toda? — Megan encolhe os ombros. — Provavelmente. Aposto que o apito é a única coisa que ela já colocou na boca. — Eu faço uma careta para ela. — Nojento. Prefiro não visualizar ela colocando a boca em nada. — Eu gostaria de visualizar a boca desse cara. Você viu aquelas tatuagens? Ele tem um irmão mais novo fofo? — Calma. Eu peguei uma carona com ele. Não fiz uma análise da biografia dele. — Ela olha para a casa, mas Lucky não está em lugar algum. — Espero que os caras sejam bonitos assim quando tivermos essa idade. Eu não quero me casar com alguém bonito que depois fica todo careca e bar- rigudo. — Ela estremece dramaticamente. Esbarro meu ombro no dela. — Você é louca. Quando você se casa com alguém, você vai amar essa pessoa não importa o que aconteça. Faz parte dos votos. 18 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 18[miolo] Não beije a noiva.indd 18 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

— Vamos fazer uma promessa para ver como nos sentimos quando esti- vermos em nossos trinta anos, casadas e com filhos. Temos de confessar hones- tamente uma à outra se ainda estaremos atraídas por nossos maridos. Conheço a gente e a nossa amizade. Definitivamente teremos essa conversa daqui a alguns anos. — Por que você está pensando em casamento e filhos? Ainda nem nos formamos no ensino médio. Ela encolhe os ombros. — Não é esse o objetivo final? Casamento, dois filhos, uma casa legal, carreira de sucesso? Minha mãe já está planejando meu casamento, e eu nem estou namorando ninguém. — Não é isso que eu quero. — Seguimos até as portas. — Eu nunca vou me casar. — Não me diga que você ainda está presa nessa ideia de viver-em-um- -trailer-com-um-bando-de-gatos? Megan quer o que seus pais têm. Uma casa grande em um beco sem saída. Uma família. Muitas reuniões de família. Carreiras de sucesso. Eu não a culpo, porque em seu mundo, isso é muito próximo da perfeição. Mas o meu mundo é diferente. — O que há de errado em viver em um trailer? Eu posso ir a qualquer lugar. Viver em qualquer lugar. Eu não quero ficar presa. Em um lugar ou a alguém. Quero ser livre. Ela levanta a sobrancelha. — Então, melhor essa sua bunda livre estacionar esse trailer na minha garagem para me visitar algum dia. — Claro que eu vou. E se você não estiver feliz com seu marido barrigudo, vamos fugir dele como Thelma e Louise. — Fechado. e O dia se arrasta. Estou entediada e inquieta, observando o relógio em todas as aulas, contando os minutos até três da tarde, quando posso ir para o traba- lho. Eu adorava vir à escola todos os dias. Até a terceira série, era divertido e emocionante. Absorvia o conteúdo como uma esponja e tinha muitos amigos. Lembro de ir a festas de aniversário, usar chapéus bobos e cantar. Comer bolo. Mas, por volta da quarta série, as coisas pioraram em casa. Ou talvez eu só NÃO BEIJE A NOIVA 19 [miolo] Não beije a noiva.indd 19[miolo] Não beije a noiva.indd 19 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

finalmente tivesse idade suficiente para perceber que as coisas sempre estiveram erradas. A escola virou uma fuga. Eu não conseguia escapar de mim mesma, no entanto. Não dos medos que se espalhavam pela minha cabeça ou a sensação doentia que se agarrava dentro do meu peito. Eu lentamente me afastei de todos os meus amigos e colegas de classe, até que Megan decidiu que eu seria sua melhor amiga. Ela era a garota nova e sentou na minha frente na sala de aula. Em seu primeiro dia, se virou e dei- xou escapar toda a sua história de vida para mim em uma enorme, contínua e desconexa frase. Ela estava muito animada – mãos balançando, cabelos pre- tos se movedo, olhos se arregalando em um momento e rolando no próximo. Eu pisquei e acenei com a cabeça para ela por dez minutos inteiros enquanto ela falava, presa em seu feitiço. — Você tem olhos muito bonitos — ela disse quando finalmente respirou. Daquele momento em diante, nos tornamos melhores amigas. Às vezes, eu gostaria de poder convencê-la a seguir meu sonho do trailer. Vou sentir falta dela quando Megan for para a faculdade e começar uma vida totalmente nova. Nós nos divertiríamos dirigindo pelo país juntas, ouvindo boa música, tirando centenas de selfies em lugares novos. Em vez disso, estaremos nos comunicando por mensagens e chamadas de vídeo. O sinal das três da tarde finalmente toca, e eu ando um quilômetro e meio pela cidade até a Belongings, a butique em que eu trabalho há quase um ano. A Belongings vende itens artesanais, como joias, roupas, decoração para casa, velas, doces, bonecas e até maquiagem e sabonetes. Embora a loja pareça bem pequena do lado de fora, é muito maior por dentro, dividida em quatro seções. Todas decoradas como se fosse a casa de alguém – fotos nas paredes, joias em caixas, pratos e canecas colocados em mesas – dando a sensação de caminhar por uma casa onde se pode comprar as coisas que você gosta. Adoro o aconchego da loja. Rebecca, a proprietária, faz biscoitos na pequena cozinha nos fundos da loja, que costumava ser uma pequena lanchonete. Há dois anos, ela e o marido se divorciaram. Ela tem trinta e dois anos e não tem filhos, então, aparente- mente, depois que eles se separaram, ela se esforçou para aprender a cozinhar para se manter “ocupada demais para se envolver em um relacionamento ruim”, como ela mesma diz. Acontece que ela tem talento para preparar sobremesas incríveis. Ela coloca os biscoitos em saquinhos fofos para os clientes levarem. Rebecca está sempre tentando me fazer comê-los, mas eu nunca provei um. 20 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 20[miolo] Não beije a noiva.indd 20 18/06/2024 12:08:0518/06/2024 12:08:05

Mas eles deixam a loja com um cheiro incrível. Às vezes eu acho que metade dos clientes vem apenas pelos biscoitos. O sino na porta da butique toca quando eu abro a porta, e a explosão de ar-condicionado é refrescante depois de caminhar no calor sufocante. — Oi, Rebecca — eu grito. — Desculpa, estou atrasada hoje. Eu tive que vir a pé. Ela olha por cima de uma exibição rotativa de colares de cristal e enfia o cabelo preto na altura dos ombros atrás da orelha. — Tudo bem. Você sabe que eu não me estresso com coisas assim. Acon- teceu alguma coisa com o seu carro? Eu coloco bolsa e mochila atrás do balcão da caixa registradora e uma onda de tontura me faz segurar na borda da vitrine. Xingando a mim mesma por não chamar um Uber nessa umidade, eu destampo minha garrafa de água e bebo água até que a sensação diminua lentamente. — Eu tive que rebocá-lo ontem à noite. — Felizmente, eu não estava escalada para trabalhar ontem, já que era o primeiro dia de aula. — Não tenho certeza do que há de errado com ele, ainda está no mecânico. — Lamento ouvir isso. Não se preocupe em chegar um pouco atrasada quando precisar. Sério. — Seu olhar permanece em meu rosto. — Você está se sentindo bem? Você está pálida. Balançando a cabeça, eu digo: — Estou bem. Só está muito úmido lá fora. Eu ia perguntar se você tem alguma coisa que eu possa fazer no fim de semana. Não sei quanto vai custar essa coisa do carro... — Eu me afasto, envergonhada e esperando que ela não pense que estou tentando pressioná-la por horas extras. — Hmm. — Ela olha ao redor da loja. Seus olhos de repente se iluminam. — Na verdade, acho que tenho algo que você pode fazer por mim, porque eu não tenho tempo ou paciência. Preciso de fotos da loja e dos produtos para serem colocadas nas redes sociais. Aparentemente, eu deveria postar pelo menos uma foto por dia. Essa é a última moda agora, e eu relaxei totalmente com isso porque é uma enorme perda de tempo. — Parece divertido, na verdade. Sigo muitas pessoas e produtos no Instagram. Eu tenho tentado construir minha própria base de seguidores. Posso olhar outras butiques e ter algumas ideias. — É exatamente disso que eu preciso. Eu não sei por que não pensei em te pedir para fazer isso antes. Como está a câmera do seu celular? Meu coração afunda um pouco quando eu tiro meu celular antigo do bolso. NÃO BEIJE A NOIVA 21 [miolo] Não beije a noiva.indd 21[miolo] Não beije a noiva.indd 21 18/06/2024 12:08:0518/06/2024 12:08:05

— Hum, não muito bem. Minha tela está rachada. Não sei se isso vai... Ela levanta a mão, sorrindo. — Sabe de uma coisa? Eu estive pensando em comprar um celular novo. O meu também é antigo. Hoje à noite vou parar no shopping e comprar dois iPhones. Minha irmã disse que a câmera é incrível. Vou dar um para você. — Ah, Rebeca. Eu não posso aceitar. Você sabe quão caros eles são? Ela não está satisfeita. — Eu posso colocar como despesa da loja. Seria uma grande ajuda ter você assumindo isso. Você pode ter acesso às contas, usar filtros legais e responder todos os comentários ou perguntas que as pessoas deixarem. Pode ser uma nova parte do seu trabalho, se você estiver interessada. Eu te dou até um aumento. Um novo telefone, novas responsabilidades e um aumento? Sinto que acabei de receber um bilhete de loteria premiado. A vontade de abraçá-la é enorme, mas isso provavelmente seria pouco profissional e estranho, já que ela é minha chefe, então eu resisto. — Oh — eu digo, lutando contra lágrimas de felicidade. — Obrigada. Claro que estou interessada. Vou fazer um ótimo trabalho, prometo. Vou pesquisar hashtags. Eu vou fazer aquela coisa legal de organizar por cores que todas as contas populares fazem. Talvez possamos fazer um sorteio com uma caixa dos seus famosos biscoitos. — Meu cérebro está girando com um monte de ideias. — Viu? Você já está muito à minha frente. Você pode vir neste fim de semana e começar a tirar fotos. Não esqueça só de registrar o seu tempo para mim. As coisas parecem finalmente estar melhorando. 22 CARIAN COLE [miolo] Não beije a noiva.indd 22[miolo] Não beije a noiva.indd 22 18/06/2024 12:08:0518/06/2024 12:08:05