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82 outubro 2023 «SER ESCRITOR É COOL!» Maria João Atilano (11.º B) - vencedora nacional do 1.º desafio, no ensino secundário! «SER ESCRITOR É COOL!» é um concurso nacional de escrita, organizado pela Rede de Bibliotecas Escolares, e tem como objetivos a promoção da lei - tura e da escrita, com recurso aos media. Está organizado em 4 escalões: 1.º, 2.º e 3.º ciclos, do ensino básico, e ensino secundário. O concurso com - preende três desafios, um por trimestre, tendo o primeiro sido: «A expressão “dar voz aos alunos” é cada vez mais utilizada. O que significa isto para ti?». A nossa aluna Maria João Atilano, da turma 11.º B, fez ouvir a sua voz altisso - nantemente e foi a grande vencedora na categoria do ensino secundário! Como professora de Português da Maria João, posso dizer que, desde o mo - mento em que a conheci, me impressionou a sua voracidade como leitora, a sua curiosidade em querer conhecer novos autores, em alargar constantemente os seus horizontes! E, convenhamos, quem não é leitor, jamais será escritor! A Maria descobriu o prazer de ler, espalha, de forma contagiante, esse prazer e, agora, mostra-nos um talento admirável: o da escrita! O seu texto é surpreen - dente, poético, deliciosamente bem-humorado e crítico, embala-nos para a nostalgia de uma infância povoada pelas memórias musicais e pelas rotinas familiares, terminando com um agradecimento sentido aos seus professores... Não, Maria!... Nós, professores, é que agradecemos o privilégio de ter uma aluna como tu! Continua a investir na leitura e na escrita, pois estás a investir em ti e, simultaneamente, estás a deliciar-nos com textos inesquecíveis... Parabéns! A professora de Português, Manuela Fernandes Aqui fica o texto da Maria João e o link para o site da RBE, onde o mesmo foi publicado: Ensino Secundário Maria João Machado Silva Atilano Agrupamento de Escolas de S. Bento – Vizela https://www.rbe.mec.pt/.../SerEscritoreCool-2022-2023-1... A expressão “dar voz aos alunos” é cada vez mais utilizada. O que significa isto para ti? Eu odeio salsichas. Este clássico entre as carnes processadas repugna-me enigma - ticamente. Bacon, linguiça, salame e mortadela sempre me pareceram inofensivos, mas aqueles pedacinhos de carne em particular aterrorizam-me, o que me fez refletir. Ao longo da minha (ainda curta) vida, desenvolvi a teoria de que um vínculo afetivo estável com a família pode ser estruturado através da criação de peque - nos hábitos de cariz emocional. Trocando isto por miúdos e falando por expe - riência própria, foi importante para mim ter uma rotina consistente ao longo da infância, e calma que a aversão a salsichas ainda será protagonista nesta história! Não é necessário que me esforce muito para me recordar que, todos os dias, ao fim da tarde, o meu pai me ia buscar à escola primária no nosso carro an - tigo e, depois de um beijinho e um abraço saudoso, fazíamo-nos à estrada de volta a casa. É de salientar, novamente, a velhice do veículo, pois o rádio ainda só suportava cassetes. Entre todas, a nossa favorita era a que tocava a canção BE - Biblioteca Escolar Professoras Bibliotecárias Carla Pedro e Sofia Correia Maria João Atilano (11.º B) - vencedora nacional “Another Brick in the Wall”, dos Pink Floyd, e mesmo sem perceber uma pala - vra da letra, cantava-a alegremente. Tornou-se a minha música favorita, por - que, para além do ritmo contagiante, carregava com ela grandes memórias... Quando era finalmente crescida o suficiente para perceber o verdadeiro signifi - cado que a canção acarretava, o meu pai fez questão de me explicar que a obra se referia a um sistema educativo precário, completamente autoritário e violen - to, onde a voz dos estudantes é abafada até ao último suspiro. Nesse mesmo dia, apresentou-me ao videoclipe. Até hoje, lembro-me de cada pormenor da curta-metragem. Brilhantes mentes de criança, criativas e joviais eram oprimi - das incessantemente por professores austeros. Professores que destruíam qual - quer indício de imaginação e singularidade para as converter numa monotonia praticamente robotizada. Foi então que vi algo que me marcou permanente - mente: uma fila de meninos era conduzida a uma máquina que os processava em inúmeras salsichas, imóveis, silenciosos, enfadonhos e nojentos alimentos. Senti-me um daqueles pirralhos, invadiu-me uma sensação de revolta. Como haveríamos nós, frágeis serzinhos, de resistir às garras de tão cruéis homens? Aprendi o significado da minha voz enquanto aluna, aprendi a pro - testar, aprendi a reclamar o que é meu por direito, a ter a minha opi - nião. Sou grata por me fazer ouvir, e ainda mais grata sou por saber que não foi sempre que se deu valor ao que os mais novos tinham a dizer. Aos meus professores, que me presenteiam diariamente com a sua sabedoria, sem nunca desconsiderar os meus pontos de vista, o meu mais genuíno obrigada! É com o vosso auxílio que serei tudo o que quiser, jamais uma miserável salsicha. Maria João Machado Silva Atilano, 11.º B, n.º 9 Escola Básica e Secundária de S. Bento, Vizela

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